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sábado, 30 de maio de 2009

Jornalismo literário: seu objetivo é a permanência!

Por Josilene Paixão


Jornalismo se faz com fatos, com a verdade e com imparcialidade, não é mesmo? Nem sempre, ou melhor, é bem difícil de acontecer...
Dentro da vertente Comunicação Social, diversas linhas de pensamento e segmentos intelectuais foram surgindo, dentre estas está o Jornalismo Literário.
O mesmo é dado como uma linha jornalística que procura relatar fatos em forma literária, mas como fazê-lo? Bem, com toda certeza, não é tão simples decifrar a resposta para tal questionamento, porém podemos partir dos princípios básicos: o fato e a maneira de contá-los. Geralmente, o jornalista literário procura fazer seu texto baseando o fato em uma história, com situações, personagens e sentimento de pura literatura.
Muitos autores costumam encontrar no jornalismo literário maneiras para que seu texto permaneça por mais tempo, ao contrário de outras linhas de pensamento dentro do jornalismo, para isso, são necessários argumentos, conhecimento e explanação diversificada do fato.

A intenção do jornalismo literário é reunir o aprendizado do jornalismo de redação com determinadas técnicas narrativas oriundas da literatura, como procedimento de observação, descrição e narração. Portanto, é um jornalismo real e que apresenta os fatos de forma fictícia ou não, inferindo no entanto, a real capacidade do leitor entender e conhecer através do texto, a notícia a que se refere, na verdade o que muda é somente a maneira de expressar o fato.
Para maior aprofundamento sobre o assunto, lhe proponho a leitura do livro: Jornalismo Literário de Felipe Pena, publicado pela editora Contexto, 2006.

Em referência a tal, abaixo mostrarei uma pequena demonstração de jornalismo literário.
O sujeito magro, quase careca, daqueles de poucos fios ao lado da cabeça, com uma barriga saliente e o pensamento no umbigo do mundo, tira a carteira do bolso e se identifica para o despachante.
- Sou jornalista - diz.
- Jornalista, é?
- É, jornalista!!!
- E porque um jornalista precisa de um despachante?
- Quero fazer uma reportagem comparativa e preciso entrar em dois lugares muito diferentes. Você pode me ajudar?
O despachante analisa a face amarela do homem à sua frente. Fixa os olhos na testa longa, umedecida, revelando a oleosidade da pele fina. Tenta adivinhar seus pensamentos, mas esbarra na concentração tibetana do jornalista, que devolve o olhar fixo com uma intensidade ainda maior, quase fulminante, reservada apenas àqueles que acreditam ter uma missão a cumprir.
- E a que lugares o amigo deseja ir?
- Ao céu e ao inferno - respondeu o repórter.
- Hummmm!!! Não é tão difícil. As estradas parecem opostas, mas são paralelas.
Da gaveta da escrivaninha, o despachante puxa uma lista de formulários já carimbados e entrega-os ao repórter. Após o preenchimento, assina dois passes quase idênticos, grampeia os canhotos das fichas e coloca-os em plásticos transparentes.
- Aqui estão os passes. São válidos para uma única entrada em cada local. Você sabe a quem procurar?
- Sei - respondeu o jornalista.
- Então, boa sorte.
Com os documentos no bolso, o jornalista encaminha-se para o inferno. É recebido pelo Demônio em pessoa no portal de fogo que dá acesso ao local. Passa por um corredor estreito, vira à direita em uma pequena ante-sala e logo se depara com o salão principal, de tamanho infinito, onde estão milhgões de pessoas.
Ao analisar os habitantes daquele antro, repara na felicidade geral. Todos estão cantando, dançando e rindo à toa. Parecem gozar de boa saúde, não tem aborrecimentos, passam o dia em festas, não há ofensas, doenças, humilhações, inveja ou qualquer outro tipo de mazela. A paisagem é paradisíaca. Árvores frutíferas, rios de água transparente, longos vales e montanhas. Um lugar fantástico, pensa, não fosse por um único detalhe: depois de um certo tempo, todos acabam morrendo de fome, já que os moradores do inferno têm os cotovelos invertidos e não podem levar a comida até a boca.
Sem conseguir tirar aquela imagem da cabeça, retira-se pela mesma porta por onde entrara.
Intrigado e perplexo, segue viagem rumo ao céu, a segunda metade do itinerário de sua reportagem, imaginando a frustração que deve ser morrer de fome em lugar tão bonito quanto o inferno. Tudo por culpa dos cotovelos invertidos. Quando chega ao destino, passa pelo mesmo ritual. Entrega os documentos a São Pedro, que o conduz a um grande portão de nuvens. Passa por um corredor estreito, vira adireita numa ante-sala e, novamente, depara-se com um salão infinito. Lá dentro, a surpresa: estava diante das mesmas pessoas, das mesmas paisagens, da mesma felicidade.
No cé, assim como no inferno, todos riam, tinham saúde e também passavam o dia em festas. Da mesma forma, alí estavam as árvores frutíferas, os rios, os vales e as montanhas, como se fossem cópias do vira na primeira parte de sua viagem. Passou, então, a observar os habitantes do céu e logo percebeu que eles também tinham os cotovelos invertidos. Pensou:
- Aqui, eles também devem morrer de fome depois de um tempo. Estava errado. No céu, ninguém morre de fome, porque cada um leva a comida à boca do próximo na hora das refeições. E essa é a única coisa que o diferencia do inferno.



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